Diário de uma pastora (Parte I)
- Cristina Saraiva Figueirêdo
- 9 de mar. de 2024
- 11 min de leitura

Eu sou Cristina S. Figueiredo, tenho 45 anos de idade e sou pastora há 16 anos, mas também sou filha, esposa, mãe, amiga, estudante, e dona de casa, estou especificando isso, porque gostaria através deste post, expressar como muitas vezes temos necessidade de sermos vistos como pessoas comuns, com as mesmas necessidades e experiencias da vida, as vezes há tantas exigências sobre o título pastoral, que muitas pessoas e até nós mesmos nos esquecemos que temos outras funções tão importantes e sublimes em nossa vida; sim eu sei que é normal esse tipo de situação sobrevir a pastores, já que para grandes responsabilidades existem grandes cobranças, e que reponsabilidade imensa, cuidar do rebanho do Senhor Deus, confesso que isso as vezes me assusta, por isso estou confiada única e exclusivamente na capacitação e orientação do Espirito Santo para efetuar tal tarefa.
Bom, nasci e vivi boa parte da minha vida na região nordeste do pais, sou natural de Fortaleza-Ceará, junto com meus pais e meus três irmãos, tive uma infância incrível, pois nossos pais sempre nos proporcionaram, educação, saúde, segurança e lazer, e essa para mim é a que me traz melhores lembranças, lembro-me das praias, dos clubes, viagens, sorvetes, muitos sorvetes, e presentes, altas aventuras, ah! Mas nem tudo foi mamão com açúcar, tivemos muitos problemas, e situações de risco, meus pais ainda não conheciam a palavra de Deus e brigavam muito, minha mãe era extremamente ciumenta, e estes desentendimentos algumas vezes terminaram em breves separações, confesso que por ser a filha caçula, acredito que fui a menos afetada por todas estas confusões familiares, contudo, não posso reclamar da minha infância e do ambiente que fui criada, sempre fomos ensinados nos princípios cristãos, mesmo sem muito conhecimento deles. Ainda criança, por volta dos meus 10 anos de idade, acompanhava minha mãe a uma igreja próximo de nossa casa, onde ela havia sido convidada pela a socia do meu pai, para fazer uma campanha de 7 quartas feiras, morávamos em Gurupi-Tocantins na região norte do pais, eu amava ir a igreja, eles conduziam todas as crianças no início do culto para uma salinha onde a filha do pastor cuidava de todos e nos ensaiava para um coral infantil, sempre gostei de cantar e dançar, mas aquilo era ainda mais especial para mim, um dia a Késia, esse era o nome da filha do pastor, nos reuniu e trouxe um importante aviso, que já estávamos prontos para nossa primeira apresentação na frente da igreja, seria no culto do próximo domingo e todos precisariam estar preparados, eu estava muito ansiosa por este dia, e fiquei muito feliz com essa notícia, até que que ela nos advertiu de algo mais, que só era permitido cantar na frente da igreja quem pelo menos já houvesse aceitado Jesus como Salvador, aquilo me trouxe tanta preocupação, por que estava pronta para cantar para Jesus, mas não fazia ideia de quem Ele era, e como aceita-lo; quando voltamos para o salão principal da igreja o culto ainda não havia terminado e o pastor estava começando a fazer o apelo para as pessoas que queiram aceitar Jesus, eu olhei para minha mãe que permanecia de olhos fechados e cabeça baixa, e então corri para frente, para minha surpresa ao terminar a oração ela também estava lá na frente entregando sua vida a Jesus; no domingo a noite lá estava eu toda empolgada para cantar no coral infantil na frente de toda a igreja, e depois que eu subi aquele dia no altar, eu nunca mais desci, isso aconteceu à 35 anos atrás, desde então a vida que conheço foi no seio da igreja, evangelizando, ajudando a limpar, visitando asilos, dando aulas em escola bíblica para crianças e é claro cantando no louvor.
Como era de se esperar, me casei bem jovem, conheci meu esposo na minha igreja, mas ele era de outra denominação, e estava de visita, eu tinha 17 anos de idade quando me casei e logo o acompanhei para a igreja dele, era uma congregação bem pequena e simples, estava em construção e tinha poucos recursos, mas isso se tornou para nós mais um incentivo em ajudar na obra de Deus, do que um fator desanimador, nós tirávamos nossas tardes para evangelizar e convidar pessoas para o culto, chegávamos mais cedo, organizávamos tudo, ligávamos o som, ensaiávamos as cações, orávamos e ainda ajudávamos a receber os visitantes, foi um tempo de muto crescimento e aprendizado, tínhamos ótimas pessoas ao nosso redor e a igreja estava crescendo; tive meu primeiro filho aos 19 anos, chama-se Lucas e quase nasceu dentro da igreja (risos), anos depois tive meu filho caçula, o nome deste é Davi e não foi diferente do outro, sai do culto de domingo direto para a maternidade, já estávamos morando em Palmas -Tocantins e em todo esse período de gestação e amamentação foi trabalhando na obra de Deus, nem a gravidez nem meus filhos pequenos eram obstáculo para qualquer coisa que se propunha a fazer na igreja, tinha células, cantava no louvor, pregava nos encontros, ajudava nas redes e detalhe, durante esse período, trabalhei em um hospital e estava terminando o ensino médio, não tinha carro e enfrentava um período de muita crise financeira, tudo o que eu tinha era um carrinho de bebê e muita vontade e disposição em fazer a vontade de Deus, sempre o reino vinha em primeiro lugar, e graças a Deus, todas as outras coisas eram sempre acrescentadas.

Em 2005, nos mudamos para uma grande cidade próxima da capital do estado de Goiás, meu esposo recebeu uma proposta de trabalho e resolveu aceitar, como não havia igreja da nossa denominação nesta cidade, resolvemos orar e pedir direção de Deus, fizemos isso por 90 dias e então decidimos começar uma célula em nossa casa, com a permissão e benção do nosso apostolo, que veio nos visitar em seguida, meu esposo havia feito seminário e se formado em teologia, mas não havia sido ordenado a pastor ainda, éramos líderes de célula, nos sentíamos com pouca experiencia e não conhecíamos praticamente ninguém na cidade, parecia assustador, mas nosso coração queimava por ganhar almas e contribuir com o reino de Deus de alguma forma, mas aí estava o desafio em alcançar pessoas que não conhecíamos, como nos aproximar delas? pareciam todos tão desconfiados e distantes, eu andava sorrindo pelas as ruas, na tentativa de parecer mais simpática e receber um comprimento de volta, mas confesso não estava funcionando direito minha estratégia, começamos a orar e jejuar incessantemente por almas e por sabedoria; um dia meu esposo foi a panificadora bem cedo comprar pão para o nosso café, e encontrou uma mulher sentada bebendo, eu não sei ao certo o que ela bebia, mas era muito cedo para estar naquele estado, essa mulher abordou meu esposo com a seguinte pergunta: porque ao ver o nome de Jesus no adesivo do carro estacionado na rua, sentia vontade de chorar? foi então que meu esposo respondeu que certamente era porque Jesus a amava e a queria salvar, ele pegou o nome completo, endereço e telefone dela e me entregou ao chegar em casa, eu coloquei aquele papel dentro de minha bíblia e passei a orar por ela, enquanto isso minha vizinha e eu nos tornamos mais próximas, ela era uma jovem mulher incrível, dedicada ao esposo e seu filho, e eu não perdia a oportunidade de orar com ela e levar a palavra de Deus a sua casa, posteriormente ela foi muito usada por Deus para nos ajudar no crescimento da célula e da igreja, um certo dia fui convidada a cantar em uma igreja próxima de minha casa, durante o culto uma mulher entrou na igreja muito bêbada e chorando sentou-se nos últimos bancos, algumas irmãs oraram com ela e pegaram seu nome, endereço e telefone, para uma eventual visita, o culto terminou e fui para casa, era já tarde naquela mesma noite, o pastor da igreja que me convidara, bateu em nossa porta, nós ficamos surpresos pelo o horário, e o motivo de sua visita repentina, ele entrou e nos disse, que Deus o havia ordenado fazer algo, que consistia em entregar para mim o papel com o nome da mulher que havia entrado na igreja bêbada aquele culto, e que era para eu cuidar dela, bom, eu fiquei feliz em receber essa missão, mas fiquei muito mais surpresa e entusiasmada ao ler o nome da mulher no papel que o pastor me entregou, rapidamente peguei minha bíblia e comparei com o papel que meu esposo havia me entregado dias atrás, e era a mesma pessoa, aquilo foi mais que um sinal de que Deus estava no controle de tudo isso, era o sim de Deus para nosso chamado para ganhar almas, sim eu a visitei e ela foi alcançada para Jesus, e está até hoje conosco, fazendo parte do rol de evangelistas da igreja, tantas outras pessoas vieram, e como Deus realizou e ainda realiza maravilhas em nosso meio, desde então temos visto, pessoas sendo curadas, libertas e salvas pela a graça de Deus bem diante dos nossos olhos, que não caberiam em um livro, se fosse relatar todos, talvez em outros posts eu vá compartilhando aos poucos conforme o Senhor ordenar.

Mas nem tudo foram só vitórias e conquistas durante todo este tempo vivenciando o ministério, pois fomos ordenados pastores, e junto com essa missão, vieram autoridade, mas também responsabilidades, muito choro, muitas percas, traições e abandonos, logo no início do nosso ministério, tivemos que enfrentar um problema de saúde grave com nosso filho caçula, que nos custou muitas noites em claro orando e clamando a Deus por socorro, mas não paramos, não voltamos atrás, nem mesmo pensamos em desistir, lembro-me sempre das palavras de Jesus em Lucas 9:62 “Todo aquele que põe a mão no arado e olha para trás, não está apto para o Reino de Deus.” Veja com são sérias essas palavras, e como entende-las pode significar proposito para um servo do Senhor e seu chamado, eu fico muito triste quando vejo as pessoas abandonarem tudo por causa dos desafios ou provações, desistem do proposito de Deus ou tentam adaptar ao seu modo, por pura discordância ou desafeto, ou por desejarem uma forma mais agradável de cumpri-lo, estamos sempre tão prontos a avaliar o que deve ou não ser feito na igreja, mas nunca prontos a sacrificar nosso eu por ela, quantas vezes eu deixei de fazer festa de aniversário dos meus filhos, para abençoar alguma discipula, por não ter recursos suficiente para fazer as duas coisas ao mesmo tempo, e no final das contas ainda ser chamada de mercenária por alguém que nunca soube o que é pagar um preço por uma alma, parece um desabafo, e talvez de certa forma seja, não costumo levar estas coisas para o altar em minhas pregações, pois sei que há ocasião e lugar para todas as coisas, mas aqui neste post, acredito que possa abrir um pouco meu coração com você leitor, possa trazer um pouco a luz o que há no íntimo de um líder cristão, que muitas vezes mesmo em dores mais profunda, não deixa transparecer para a igreja, mas cumpre seu chamado, eu acompanho as redes sociais e tenho o hábito de ler os comentários e confesso que a cada dia fico mais assustada com a opinião que algumas pessoas expressam nas redes sobre suas lideranças, e como elas imaginam que seja a vida de um pastor, tudo tão alheio a realidade, que meu coração chega a partir de tristeza ao ler tantas acusações e críticas e nenhum reconhecimento pelo o esforço e doação de vida, quando a maioria destas pessoas chegaram na igreja, desiludidas, desesperadas, desempregada, com a família destruída ou desistidos dos sonhos, e depois de receberem cuidado, ministração e apoio até mesmo financeiro viram as costas na primeira oportunidade, ou em seguida dos objetivos alcançados; eu sei que muitos lideres gostariam de dizer tudo isso, mas não podem, por que se disserem serão considerados despreparados, autoritários ou serão mal compreendidos como se alegassem o que fizeram pelo os outros, sim não precisamos de reconhecimento humano, nem que fiquem conosco pelo que fizemos por eles, não, nada disso nos interessa, pois sabemos que nossa recompensa maior está na glória, e aqui somos recompensados cada vez que vemos Deus operar na vida de alguém, essa é nossa maior alegria e prazer, mas a reciprocidade é esperada e outra coisa é certa, quem está sendo prejudicado é o Reino de Deus com tudo isso, coisas grandes e especiais estão deixando de acontecer por picuinhas e o nome do Senhor está sendo desonrado através destes fatos.
O proposito principal aqui não é atacar ou ferir as pessoas que já se deixaram levar por facções, dissensões e discórdias na igreja, pois estas são obras da carne, como está descrito em gálatas 5:19 à 21, e quando começamos a olhar as coisas com olhar carnal, é obvio que seremos propensos a cometer injustiças e encontrar defeito em tudo, e digo nós, porque eu também já fui tentada a tais coisas, uma experiencia aconteceu comigo certa vez quando uma amiga estava arrumando meu cabelo e começou a criticar minha apostola, eu percebi, que aquela conversa não provinha do Espirito de Deus, e não edificaria em nada, eu era muito nova e com isso também um pouco bruta (risos), eu pedi imediatamente que ela parasse com aquele assunto ou eu me levantaria dali e não voltaria mais, ela ficou surpresa e tentou se justificar, mas como o coração dela ainda não estava tomado por más intenções, ela parou, mas imagine se eu tivesse dado ouvido, ou tratasse como uma conversa qualquer, se tivesse levado adiante e também expressado minha opinião acerca do que eu nem mesmo entendia? Certamente nós duas teríamos guardado aquilo no coração e teria frutificado pensamentos ruins acerca de uma pessoa que só queira nosso bem, e nos ajudava dia e noite a crescer no reino de Deus, é assim que começam a sujar a imagem de um líder, quem falou que líderes não tem defeitos? Ou que eles não podem errar? Mas isso não muda o fato de serem escolhidos por Deus e terem sido colocados em nossa vida pelo o próprio Deus, desde o acontecido com a minha primeira discipula que eu contei acima dos papeis com o mesmo nome eu tive certeza que não cuidamos de pessoas aleatoriamente, mas elas são enviadas por Deus, para serem abençoadas através de nossas vidas e muitas vezes, aprendemos até com aquilo que acreditamos ser deficiência dos nossos lideres , muitas vezes, o Senhor permite tais coisas para nos tratar e nos moldar pois o mais provável é vermos nos outros a deficiência que há em nós, principalmente se for quem nos gerou, tenho um bom exemplo disso aqui em minha casa, dos meus dois filhos o que mais herdou os defeitos do meu marido foi meu filho caçula, (ai de mim se eles lerem isso ... risos), e os dois vivem criticando um ao outro no mesmo defeito que cometem, e eu assistindo tudo dou boas risadas, e oro para que Deus trate essa deficiência mútua, curando ambos através deles mesmo, é sempre assim em nossa casa, o problema é que quando isso acontece na igreja, achamos que basta se desligar da instituição e procurar um lugar diferente para se sentir melhor, Hey! Sabe por que você procura um lugar diferente? Porque ele não é igual a você, quem precisa mudar não é o lugar, mas você, Deus te colocou no lugar certo, Ele não se enganou, com o proposito de influenciar o ambiente seja com sua atitude humilde, ou com sua entrega total a causa, ou até mesmo apenas com oração. Infelizmente nem todo mundo entende isso, e passa a vida mudando de denominação ou até mesmo abandonando a fé por procurar perfeição sem ser perfeito, em quem o próprio e perfeito Cristo justificou.
Há muitas experiencias e histórias que gostaria de compartilhar com vocês aqui neste post, mas isso tornaria uma leitura muito longa, então eu deixo aqui para você, não um desabafo, mas um pedido para que medite na história dos seus líderes, na trajetória deles, não aceite difamação de outras pessoas perto dos seus ouvidos, pois isto vai direto para o coração e faz com que se feche para quem te estendeu a mão quando você mais precisou, e pior de tudo, isso vai feri-los, como já fui ferida várias vezes e só encontrei a cura em Deus. Se o Senhor permitir em outro post vou compartilhar uma experiência em que foi a única vez até agora que me senti completamente impotente em meu chamado, mas Deus falou comigo e entendi que por pior que seja a situação, Deus está sempre no controle,
você gostou desse post, e quer ouvir mais sobre esse assunto, deixa sua curtida ou seu comentário, será um prazer interagir com você leitor, desejo que tudo vá bem e declaro muitas bençãos na sua vida em nome de Jesus!
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